(Resenha desenvolvida na preparação para o 5° Encontro Americano - ENAPOL)
Por: Cláudia Aldigueri Rodriguez EBP-Seção São Paulo- CLIPP
Èric Laurent, Delegado Geral, sucessor de Graciela Brodsky, retomando a relação de princípios da “Carta para a psicanálise”, apresenta-os para a aprovação de todos os psicanalistas integrantes da Assembleia Geral da AMP, em 16 de julho de 2006, em Roma. Eis uma síntese de seus principais pontos:
· Primeiro princípio:
A psicanálise é uma prática da fala e da escuta entre dois parceiros, o analista e o analisante. Numa sessão analítica, o tecido do inconsciente vai se compondo e mostrando o poder da linguagem e seus efeitos. A interpretação vem tanto do analisante quanto do analista.
· Segundo princípio:
O analista ocupa o lugar do desejo, o que lhe permite sustentar a particularidade clínica do sujeito que a ele se dirige. Ele é o responsável pelo afrouxamento das identificações às quais o sujeito está fixado e pela condução desse sujeito a se desvencilhar delas.
· Terceiro princípio:
O analisante dirige-se ao analista, para ele representante do Outro, e deposita nele sentimentos, crenças, esperanças, esperando reencontrar algo perdido, o objeto perdido, o parceiro de sua fantasia. A transferência é responsável pelo laço que se estabelece entre analista e analisante.
· Quarto princípio:
O lugar do Outro é assegurado pelo laço transferencial. É nesse contexto que o inconsciente pode se manifestar e o analisante pode se deparar com todas as identificações especulares que determinaram seu parceiro-fantasia.
· Quinto princípio:
O tratamento psicanalítico não segue um protocolo geral padronizado. A experiência psicanalítica apresenta apenas uma constante, o cenário original, cujo discurso estimula a emergência da singularidade subjetiva, a exceção de cada analisante. Daí a complexidade em relatar a particularidade de cada caso.
· Sexto princípio:
Este princípio enfatiza a tônica da Carta: não há padronização, estandardização, tampouco quanto à duração das sessões. Em Lacan, a determinação do tempo do tratamento, caso a caso, é ‘sob medida’; “o ajuste do sujeito consigo mesmo” é a ordem do dia.
· Sétimo princípio:
O sujeito tem sua singularidade, portanto, impossível se torna normatizá-lo. Realizando a castração, o sujeito percebe sua impotência diante da plena satisfação sexual. Realiza também a impossibilidade de plenitude numa relação sexual. Resta como solução singular a possibilidade de criação e invenção condizentes ao sintoma que o determina na vida.
· Oitavo princípio:
Este princípio diz respeito às normas de formação dos analistas, as quais devem se estruturar num tripé: sua própria análise, a formação teórica e a supervisão entre pares. Essa formação pressupõe uma formação superior prévia. Definir a identidade do psicanalista seria uma ilusão, seria esquecer a singularidade na formação de cada um, responsável por essa identificação. Digamos que essa identificação seja multifacetada. Quanto à nomeação do psicanalista, como no chiste, ele depende de um Outro que o reconheça.
Referência:
*LAURENT. E. “Princípios diretores do ato analítico” em A sociedade do sintoma – a psicanálise, hoje. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2007.
Palavras chaves: analista, analisante, inconsciente, lugar do desejo, transferência, Outro, identificações, singularidade subjetiva, tempo sob medida, castração, invenção, formação do analista.
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