O GLOBO: O que é "ser" normal?
ÉRIC LAURENT: É ser "louco", como todo mundo, mas à sua maneira, a de cada um não é a do vizinho. A felicidade comum não existe, cada um tem as particularidades do seu mundo e o que o faz enlouquecer.
ÉRIC LAURENT: É ser "louco", como todo mundo, mas à sua maneira, a de cada um não é a do vizinho. A felicidade comum não existe, cada um tem as particularidades do seu mundo e o que o faz enlouquecer.
O GLOBO: Hoje as pessoas se consideram mais normais ou anormais? Baseadas em quê estabelecem esses critérios?
ÉRIC LAURENT: Nosso mundo foi invadido pelo ciframento de toda atividade humana: as estatísticas, os indicadores quantitativos, a pressão para ser avaliado produz um duplo efeito. Por um lado, reconhecer a particularidade de seu estilo de vida como "normal" seja qual for sua estranheza. De outro lado, ser reconhecido como exceção à regra, como uma pessoa.
ÉRIC LAURENT: Nosso mundo foi invadido pelo ciframento de toda atividade humana: as estatísticas, os indicadores quantitativos, a pressão para ser avaliado produz um duplo efeito. Por um lado, reconhecer a particularidade de seu estilo de vida como "normal" seja qual for sua estranheza. De outro lado, ser reconhecido como exceção à regra, como uma pessoa.
O GLOBO: Por que nos sentimos tão desconfortáveis com nossas loucuras?
ÉRIC LAURENT: Pela pressão conformista de ser "um homem sem qualidades" como dizia (Robert) Musil.
O GLOBO: Quando o senhor fala que a satisfação máxima é o gozo atual da sociedade, essa satisfação tem a ver com felicidade?
ÉRIC LAURENT: A felicidade sempre foi concebida como harmonia. A necessidade imperiosa de obter uma satisfação de gozo maximizada sempre ultrapassa os padrões de felicidade. E além de ser feliz, não há mais.
O GLOBO: Em que medida essa satisfação máxima contribui para esse desconforto?
ÉRIC LAURENT: Porque é um imperativo tão destruidor como foi a repressão na época vitoriana.
O GLOBO: Como o senhor acha que as pessoas lidam com as frustrações e decepções em uma sociedade que cobra sorrisos o tempo todo?
ÉRIC LAURENT: Esta sociedade que "cobra sorrisos" é cruel e violenta. Ser carioca é saber lidar com isso de uma certa maneira, com o Carnaval por exemplo. Além da identidade coletiva, cada um encontra seu carnaval particular que é seu sintoma. Um sintoma é feito da imposibilidade de uma identificação única. Cada um é múltiplo.
O GLOBO: A superexposição atual tem a ver com isso, já que todos estão acessíveis nas redes sociais, precisam estar bem, sorridentes, realizando e adquirindo coisas?
ÉRIC LAURENT: As redes sociais são formas de se reconhecer como os demais, apesar da angústia de que não se é. O paradoxo é que uma rede social pode ser uma maneira extraordinária de atuar ao contrário da padronização identificatória. Pode servir para atuar contra as normas e o poder. O Facebook pode favorecer uma epidemia de rebeldia como se viu no Irã e no Oriente Médio.
O GLOBO: Como o senhor observa o comportamento das pessoas online e na vida real? Não é muito diferente?
ÉRIC LAURENT: As redes sociais mais interessantes para um psicanalista são as redes de encontros. As diferenças entre o papel desempenhado por cada um e a maneira particular com a qual se produz o desencontro é muito notável. Quando digo desencontro, isto inclui os casos nos quais o encontro desemboca em parceiros estáveis.
O GLOBO: Para onde o senhor acha que vamos caminhar a partir daqui? Esses conceitos e filosofia de vida vão se potencializar ou poderá haver uma ruptura nesses padrões?
ÉRIC LAURENT: Vamos padecer mais a cada dia dos paradoxos das loucuras cotidianas, tratando de encontrar nossas soluções, uma por uma.
ÉRIC LAURENT: Pela pressão conformista de ser "um homem sem qualidades" como dizia (Robert) Musil.
O GLOBO: Quando o senhor fala que a satisfação máxima é o gozo atual da sociedade, essa satisfação tem a ver com felicidade?
ÉRIC LAURENT: A felicidade sempre foi concebida como harmonia. A necessidade imperiosa de obter uma satisfação de gozo maximizada sempre ultrapassa os padrões de felicidade. E além de ser feliz, não há mais.
O GLOBO: Em que medida essa satisfação máxima contribui para esse desconforto?
ÉRIC LAURENT: Porque é um imperativo tão destruidor como foi a repressão na época vitoriana.
O GLOBO: Como o senhor acha que as pessoas lidam com as frustrações e decepções em uma sociedade que cobra sorrisos o tempo todo?
ÉRIC LAURENT: Esta sociedade que "cobra sorrisos" é cruel e violenta. Ser carioca é saber lidar com isso de uma certa maneira, com o Carnaval por exemplo. Além da identidade coletiva, cada um encontra seu carnaval particular que é seu sintoma. Um sintoma é feito da imposibilidade de uma identificação única. Cada um é múltiplo.
O GLOBO: A superexposição atual tem a ver com isso, já que todos estão acessíveis nas redes sociais, precisam estar bem, sorridentes, realizando e adquirindo coisas?
ÉRIC LAURENT: As redes sociais são formas de se reconhecer como os demais, apesar da angústia de que não se é. O paradoxo é que uma rede social pode ser uma maneira extraordinária de atuar ao contrário da padronização identificatória. Pode servir para atuar contra as normas e o poder. O Facebook pode favorecer uma epidemia de rebeldia como se viu no Irã e no Oriente Médio.
O GLOBO: Como o senhor observa o comportamento das pessoas online e na vida real? Não é muito diferente?
ÉRIC LAURENT: As redes sociais mais interessantes para um psicanalista são as redes de encontros. As diferenças entre o papel desempenhado por cada um e a maneira particular com a qual se produz o desencontro é muito notável. Quando digo desencontro, isto inclui os casos nos quais o encontro desemboca em parceiros estáveis.
O GLOBO: Para onde o senhor acha que vamos caminhar a partir daqui? Esses conceitos e filosofia de vida vão se potencializar ou poderá haver uma ruptura nesses padrões?
ÉRIC LAURENT: Vamos padecer mais a cada dia dos paradoxos das loucuras cotidianas, tratando de encontrar nossas soluções, uma por uma.
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