Uma primeira mini-crítica, de Cláudia Riolfi, psicanalista, professora da USP:
Ao escrever “Inconsciente e Responsabilidade”, Jorge Forbes fez seus colegas se sentirem menos sós. Os que apostavam na possibilidade de instalar a experiência analítica em sociedades horizontais, mas não sabiam qual direção clínica adotar, encontraram alento e esperança ao ler o manuscrito. O que fazer para tratar pacientes sem queixa nem culpa? O que fazer com as legiões de apáticos que sofrem da falta de alegria de viver, mas não encontram ânimo para alterar sua vida? De modo claro e convincente, Forbes expôs os princípios de uma Psicanálise que, honrando a herança de Jacques Lacan, leva cada um de nós a encontrar, na vergonha, seu ponto de ancoragem. Visitando a clínica, a escola, a família, o direito e a empresa mostrou que, paradoxalmente, a vida nasce do encontro com a morte. Levou o leitor a perceber que a responsabilidade psicanalítica pode ser instalada quando, para além da famosa luta pela sobrevivência, o sujeito se depara com algo pelo qual valeria a pena perder a vida. Um livro de cabeceira.
Uma segunda mini-crítica, de Alain Mouzat, psicanalista, professor da USP:
Em Inconsciente e responsabilidade: uma psicanálise para o século XXI, Jorge Forbes devolve à psicanálise toda a sua virulência, explorando pistas abertas por Jacques Lacan, particularmente a partir do que é conhecido como “a segunda clínica”, que se pode identificar no seu ensino nos anos 70.Sublinhando que já se encontra o conceito de responsabilidade pelos sonhos em Freud, e pela nossa posição de sujeito em Lacan, Jorge Forbes vai desenvolver o conceito de responsabilidade pelo inconsciente, “ inconsciente” entendido aqui não mais como acidente que traz efeitos indesejáveis que precisam ser sanados pelo levantamento do recalque via interpretação, mas como encontro com o acaso, a tiqué, cerne do inconsciente, “estranho” onde não me reconheço e que, no entanto, constitui meu mais íntimo, e pelo qual não posso deixar de me responsabilizar .Proposta implacável: ser responsável pelo que lhe acontece! Mas no encontro com o real, não há negociação discursiva possível, desculpas ou justificativas. Ele é.A psicanálise aparece assim não como remédio ao desbussolamento do homem no mundo globalizado, órfão dos grandes discursos provedores de sentido, mas sim como a possibilidade de fundação de um novo laço social, baseado não mais na palavra cheia de sentido que leva à compreensão entre indivíduos, mas no ressoar da palavra no corpo, além da significação; no lugar do diálogo, monólogos articulados.As conseqüências para a clínica psicanalítica, na condução da análise e no final de análise, são mostradas e comentadas com precisão por relatos de apresentação de pacientes, e dão a exata idéia de como age a “segunda clínica” lacaniana: clínica do equívoco visando a implicar o sujeito na sua fala.Mas devolver à psicanálise toda sua virulência é também mostrar os efeitos que ela pode ter no mundo: na família, na empresa, na escola, como ela pode permitir, não recuperar um passado, mas participar na “ invenção do futuro”.Uma questão me persegue: porque uma leitura da psicanálise tão precisa, clara e inovadora é produzida no Brasil, enquanto uma massa de produção intelectual - na França, por exemplo – que serve muitas vezes de material de estudo para os analistas brasileiros, não chegou a fornecer uma obra dessa densidade para pensar uma psicanálise para o século XXI?Muito obrigado Jorge Forbes.
(e um comentário da mini-crítica, acima, de Alain Mouzat, por Ariel Bogochvol, psicanalista, psiquiatra, membro da EBP e da AMP:“A apresentação do livro de Jorge Forbes por Alain Mouzat é notável. Sucinta, sintetiza um texto difícil de ser sintetizado. Rigorosa, assinala a novidade das concepções ali desenvolvidas. Provocativa, mostra como o establishment psicanalítico e lacaniano é questionado em sua prática, teoria e política por estas concepções. Radical, dá consequências às proposições do autor. Está à altura do texto que apresenta.Mais do que uma tese, o livro apresenta várias teses. Partindo das noções de Inconsciente e Responsabilidade, coloca em questão concepções e conceitos fundamentais da psicanálise como inconsciente, culpa, repetição, função paterna, transferência, amor, sintoma, laço social, interpretação, posição do analista, direção do tratamento, ética da psicanálise... E investiga a aplicação da psicanálise em campos tão distintos como a medicina, a psiquiatria, a genética, a educação, a empresa, a mídia, a economia, a cultura. Uma viva demonstração de psicanálise pura e aplicada e uma prova de que podem ser abordadas a partir de outra topologia.Apenas começamos a entrever o grau de virulência do texto de Jorge Forbes. Fazemos votos de que produza uma infecção generalizada.”)
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