22.5.11

Seção São Paulo em movimento - ENAPOL: "Todo mundo é louco, isto é, delirante" (J.Lacan)


       
Entrevista com Éric Laurent*
(Resenha desenvolvida na preparação para o V Encontro Americano - ENAPOL)

Por: Claudia Figaro-Garcia EBP-SP – participante da Seção Clínica da CLIPP

            Em abril de 2009, um grupo de membros da EBP, entre eles Sergio Laia, Ana Lydia Santiago e Tânia Abreu entrevistaram Éric Laurent inaugurando a seção de entrevistas da revista Correio. Na ocasião, os temas abordados Semblantes, Laço Social e Sinthoma se articulavam tanto no IV Encontro Americano “A clínica psicanalítica hoje: sintoma e laço social” realizado em Buenos Aires em 2009, quanto no VII Congresso da AMP “ Semblantes e Sinthoma” realizado em Paris em 2010. 

              Na resposta à primeira pergunta sobre o que é um semblante, Laurent diz que Lacan, no Seminário 18 constata que os significantes estão na natureza e não na cultura, ou seja, o contrário do que ele até então ensinava de que eles estavam no lugar do Outro da cultura, da lei, das normas sociais, dos arranjos culturais. Na natureza “um saber é extraído”. Todavia, Lacan não considera os significantes a partir de espécies naturais e sim de forma efêmera como um arco-íris ou um meteoro, isto é, estão ali mas logo não estão. Para que os significantes se articulassem ao gozo foi preciso um corpo, um “corpo despedaçado” para servir de suporte ao gozo. E como o corpo se articulou ao significante? Assim como o meteoro que aparece e desaparece e que pode não estar em seu lugar, os semblantes, que unificam imaginário e simbólico, vão designar um elemento da natureza para se unir ao corpo. 

            Como isso é possível? Laurent recorre ao curso ministrado por Miller, Da natureza dos semblantes, para apontar de que se trata do falo feminino o meteoro que aparece e desaparece e que não está em seu lugar. É o falo feminino que permitirá nomear alguma coisa desse gozo do corpo despedaçado “a partir do momento em que esse semblante particular encontra seu lugar e se junta ao corpo que não lhe pertence.”(p.11). 

          Somente na experiência psicanalítica o semblante consegue tocar o gozo, que por sua vez não se liga ao semblante, e sim aparece em suas falhas, na sua “impossibilidade de designar”. Laurent diz que “o discurso que não é semblante é sintoma.”

          Sergio Laia pergunta se o sintoma é um discurso e Laurent diz que ele é pelo menos uma escrita, pelo seu poder de decifração de algumas partes. Ana Lydia Santiago pergunta se os semblantes, como efêmeros, não seriam uma maneira de abordar a parte do sintoma que não é decifrável. Laurent responde perguntando como ela entende a expressão “recuperar os semblantes”. 

       Para Sergio Laia essa expressão proposta por Miller indica que os analistas devem recuperar a dignidade dos semblantes a eles mesmos e não considerá-los como algo de menor valor diante do real. Para Laurent “recuperar o semblante é saber fazer o uso possível do semblante, para situar, com efeito, o sintoma em sua dimensão mais radical, singular, na dimensão sinthomática do laço com o gozo.” (p.14). 

          Com relação ao sinthoma e o laço social, Laia pergunta a Laurent, se o sinthoma do final de análise não implicaria em uma ruptura com o laço social, uma vez que aponta para a singularidade e solidão do sujeito. Ou o sinthoma conservaria alguma relação com o laço social? 

         Laurent diz que justamente pela impossiblidade de se escrever a relação sexual entre o homem e a mulher, porque há essa falha que é possível articular aí o laço social e não o laço social pensado por Freud como algo da ordem da sublimação como o que ocorreu com os irmãos da horda após o assassinato do Pai em Totem e Tabu. 

          Sergio Laia finaliza a entrevista perguntando se seria possível encontrar algo do semblante no sinthoma do final de análise ou haveria uma espécie de disjunção entre eles. Laurent diz que nos testemunhos de passe sempre surge um significante que “condensa valores de gozo”. Surge como o que poderia ser todos os “semblantes atravessados”. No entanto, Laurent diz que um significante único é impossível de se manter. Como diz Lacan haverá um “resto de história irredutível, que manterá o discurso como um semblante”. No entanto, se produz no final de análise uma saída que é a do discurso “sem garantia”.

Referência

*Entrevista com Éric Laurent, In: Correio: Escola Brasileira de Psicanálise: São Paulo: EBP, n. 63.

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