“SOB O CÉU DA PSICANÁLISE E NO LITORAL DOS IMPOSSÍVEIS - LEITURA DE NOTÍCIAS ATUAIS”
(Resenha)
Por: Claudia Figaro-Garcia – EBP-SP - CLIPP
Ao citar algumas notícias/escândalos ocorridos em diferentes países que rapidamente chegam pela telecomunicação, Eric Laurent diz que estamos na época do “instante do olho absoluto” que nos “torna loucos”. Função desafiadora para os analistas na contemporaneidade, que ao se depararem com a “tirania da transparência” caminham no sentido contrário, como dissidentes de olho que tudo vê sabendo que o sinthoma do sujeito não pode aparecer a olho nu. Há uma sombra que nele precisa ser deixada.
O mote que envolve as notícias /escândalos é a manifestação da sexualidade de padres, esportistas e até altos executivos que se expressa, no Discurso do Mestre, como adição, seja como a pedofilia, a compulsão sexual ou sexo virtual. Aqueles que estão “sob o olhar do mundo” como diz Laurent tem as particularidades de seu sinthoma expostas. Gozo partilhado e retomado sempre ao olho do expectador pois com um simples toque o Google recupera a notícia e suas imagens. A verdade da notícia, o saber sobre um fato que pode não ser exatamente daquela forma. Equívocos da linguagem. O fato, como Laurent aponta, é que nem mais nossos pensamentos poderão ser privados, pois com os scanners do cérebro, aparelhos prontos para a comercialização e desenvolvidos por uma empresa de tecnologia avançada, possibilitarão que os mesmos sejam lidos. Lidos a olhos abertos!
Para Laurent, a depressão configura-se como “candidata” para ser a grande perturbação do sujeito contemporâneo que responde ao furo do Outro. Mas também há a psicose, como tentaram Deleuze e Guatarri em 1972, fazer da “esquizofrenia-paranóia o enquadre a da doença moderna”. O cientismo, com diz Laurent, é um variante da paranóia contemporânea, pois a Ciência partilha com a paranóia um ponto de foraclusão. A teoria do jogos e os modelos matemáticos propunham um equilíbrio paranóico propiciando um laço social. E a histeria? Para Laurent a histeria é a grande neurose da época. Miller diz que a histérica “é todo mundo, é ser como todo mundo”. Resta-nos enquanto analistas fazermos uma escolha ética quando nos defrontamos com o que recobre a estrutura do sujeito e os impasses do Outro, como disse Lacan. Um escolha entre a “loucura e a debilidade”.
Laurent finaliza o texto dizendo que o Céu da psicanálise é “destranbelhado” e o Céu do inconsciente “arruinado”. Há furos que formam conjuntos e por isso não são totalidades, não se fecham. E há o furo do próprio sujeito, o inconsciente. Por isso Freud preferia ler a ordem inconsciente nas ruínas de Pompéia e Roma. Todavia, um objeto vem se alojar nesse “céu bizarro”, o objeto a. Então Laurent se pergunta se essa ordem furada, ou esse céu destranbelhado, junto com o objeto a, merece ainda ser chamada de ordem simbólica? Não poderíamos ter uma relação com o real sem lei? Não, diz Laurent “não se afronta o real de cara”, pois para abordá-lo é preciso passar pelo “litoral dos impossíveis” o que acontece também com o sinthome quando abordado pelos semblantes.
*Eric Laurent. “SOB O CÉU DA PSICANÁLISE E NO LITORAL DOS IMPOSSÍVEIS - LEITURA DE NOTÍCIAS ATUAIS”. In: Batista, Maria do Carmo Dias, Laia, Sérgio (organizadores). Todo mundo delira. EBP; Belo Horizonte: Scriptum
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