7.9.11

Lacan Cotidiano - N° 05


Acompanhe completo em: http://www.ebpsp.org.br/ebpsp/publier4.0/texto.asp?id=345


O PERCURSO DE UM SIGNIFICANTE 
por Jacques-Alain Miller
A linha final deste texto indicava « Strasbourg, 1975». Ela atiçou a minha curiosidade, e pedi ao autor que precisasse  o percurso deste texto. Parece então que ele surgiu de uma exposição feita, sem projeto de publicação, no seminário mensal do professor René Ebtinger, e que ele foi redigido a pedido de nosso saudoso colega Christian Dumoulin, que o publicou no Les Feuillets psychiatriques de Liège, que ele dirigiu, pequeno boletim bastante confidencial. «Passei os últimos dias no meio da poeira, arrumando velhos documentos, me escreve Zaloszyc, e caiu-me às mãos este velho discurso. Então uma descoberta, contingente, e mesmo duplamente, triplamente contingente – com o meu texto da jornada Uforca em Montpellier, e com aquele das Jornadas de outubro da Escola da Causa Freudiana, que abordam uma questão de interesse super atual: a da relação entre o equívoco e o que ela pode tocar do real, como excluído do sentido. Além do mais, há a divertida ligação entre esta questão e a idéia de uma mentira de Freud, bem Livro Noir, e outros. Eis aqui, o que fez com que, ao seu  imprevisto pedido, eu respondesse que acabara de me cair nas mãos este velho texto. Mas foi você que acabou por aceitá-lo como conveniente, e depois há também as suas razões.»
E elas são simples: parece que este texto foi escrito nos dias de hoje; o estilo é transparente; ele aborda com leveza e em bom francês e de uma maneira divertida, questões atuais e profundas. Estou mais do que cansado, de ter que me enfiar em um meio analítico de coisas totalmente incompreensíveis. Prestei-me a esta onda de verborragias, se posso assim dizer, mas temos que mudar.
Enquanto que nós, qualificados, nos fechamos em discursos ininteligíveis, são os nulos que ocupam as mídias, que correm as livrarias e contam disparates e ainda mais sobre Lacan, sem a mínima vergonha. Sempre evitei as mídias, não por desprezo (desde que aprendi a ler, eu não queria ser nem bombeiro, nem médico, mas jornalista do jornal diário e é por isto que eu sou imbatível no exercício), mas porque eu imaginava que haveria um trabalho diferente a fazer, discreto: com meus pacientes, com os meus cursos, com os seminários de Lacan.
Por mais dóceis que sejamos, é só no momento que você se dá conta que os outros decidiram enterrar você vivo, como em Kill Bill, que eles decidiram persuadir o mundo de que você não existe, de cercá-lo com uma armadilha invisível, e de encerrá-lo em seu quarto como a gata borralheira, afim de festejar sem você um homem que você amou e admirou e uma obra à qual você dedicou toda sua vida, enquanto que eles não pararam de sujá-lo e de  travestir a sua obra, bom, somente aí é que você resolve que é muito arriscado dar de ombros diante de tanta imprudência e idiotice, ficando lá mergulhado em seus livros, inteiramente voltado ao seu trabalho de beneditino. E depois chega uma hora que simplesmente, aqueles que amam você e que estão ao seu redor, não suportam mais. Entre eles, Judith, minha mulher, sua filha. Então preparei a carruagem. Dirigi-me junto a Janus. Eu adoro este momento, e conheci vários em minha vida, quando, desaparecido, dissipado no ar, eu me concentro e salto em um palco onde eu não era aguardado, posto que nem eu mesmo esperava estar lá. Recalcado, vocês me têm, meus bons amigos. É perfeito. E vocês terão que vivenciar o retorno do recalcado. E eu tomarei mais que uma forma. O branco sob o artigo de Zaloszyc está preenchido.


Tradução: Mª do Carmo Dias Batista

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