18.4.12

"Simbólico no Século XXI" - série para o VIII Congresso da AMP

Faltam 5 dias para VIII Congresso da AMP - A ordem simbólica no século XXI. Já não é o que era. Quais consequências para o tratamento?... e a orientação lacaniana vem demonstrando suas particularidades.



Cada um com sua panela


Disponível em:  http://pt.scribd.com/doc/88182246/Lacan-Cotidiano-180 

É a história de um menino chamado Anatole que, como a maçã de Newton, recebe sobre a cabeça uma panelinha. Esta, um dia, «lhe caiu de cima… não se sabe muito bem por que »1. Mas, desde este encontro contingente com um caroço de real fora do sentido, « Anatole não é mais totalmente como os outros. […] Ele é cheio de qualidades, mas frequentemente, as pessoas só veem esta panelinha que ele arrasta por todo lado. Elas acham isso bizarro, até mesmo preocupante. [É verdade que esta] panelinha lhe complica a vida, ela entala em todo lugar e o impede de avançar»2. E, quando Anatole não consegue fazer o que os outros fazem com mais facilidade, «isso o irrita terrivelmente: então ele grita, ou fala palavrão ou, até mesmo, às vezes, dá golpes… […] Anatole gostaria muito de se desembaraçar de sua panelinha, mas é impossível »3. Quando ele quer lançá-la, para se separar dela, ele é arrastado com ela, pois ele está ligado a ela por uma cadeia-nó4. Um dia, Anatole não aguenta mais e decide se esconder debaixo de sua panela, como sob uma carapaça. « Pouco a pouco, as pessoas se esquecem dele e não lhe pedem mais nada. Felizmente, […] existem pessoas extraordinárias. Basta cruzar com uma para ter vontade de tirar sua cabeça de dentro da panelinha. Ela lhe ensina a se virar com ela, […] ela confecciona [ até mesmo] uma sacola [para a panelinha]. […] A panelinha está sempre ali, mas ela é mais discreta e, principalmente, não entala mais em todo lugar. […] Contudo, Anatole é sempre o mesmo»5.

Esta história, muito poética, especialmente por este simbólico da panelinha, é contada por Isabelle Carrier, num livro magnífico para crianças, com desenhos apurados e com textos de onde emana, a cada página, a ética da psicanálise. A questão aqui não é eliminar a panela, no sentido das teorias cognitivo-comportamentais, cortar a corda, a fivela que liga Anatole a seu sintoma. Pelo contrário, Anatole encontra o desejo de uma pessoa que vai ajudá-lo a construir para si uma sacolinha para arrumar aí sua panelinha. Em um dos desenhos do livro, observa-se que ela mesma tem também uma panelinha, mas esta parece não incomodá-la mais tanto. Ao menos, ela adquiriu um saber fazer aí com isso e construiu sua própria sacolinha para colocar dentro dela sua panelinha.

(...)

Damien Botté





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