MOMENTOS CLÍNICOS
Disponível em Lacan Cotidiano 61
HELENE JOSEPH
Girl =phallus, homem =irmão
A esterilidade como sintoma. Interessada pela psicanálise desde seus estudos de psiquiatria, o que fez esta jovem mulher finalmente decidir vir a mim foi que ela não conseguia ter um filho com seu marido. Casados desde quase dez anos, a espera decepcionante de mês em mês de uma gravidez sem que nenhuma causa médica pudesse ser localizada se tornou um enigma que a faz decidir elucidar na análise, escolhendo vir ao encontro do analista de uma de suas amigas que também queria ter um filho.
O marido = O homem que se faz criança. Logo ela admite que é outro homem com o qual ela trabalha quem ocupa seus pensamentos, um homem que ela considera brilhante, inteligente, ela parece lhe agradar mesmo sabendo “que ele nunca dará o passo” que não haverá nada mais com ele a não ser jogos de sedução sob o modo de conversações vivas e divertidas.
Comparando a qualidade das conversas que ela tem com esse homem, ela considera paulatinamente que seu marido é ignorante, que ele não entende nada dos jogos de palavras, de piadas, e, sobretudo “que ele se faz sem cessar de criança”, ela está farta disso, porque ela se prestou a isso por tanto tempo? Essa característica que foi muito divertida no começo de seu relacionamento com ele se fez pouco a pouco insuportável.
Apesar de sedutora, ela reclama de ter tido poucas historias amorosas antes de conhecer seu marido, a mais importante delas resultou no seu abandono, o que a fez sofrer muito.
O irmão = ao filho que faz o homem. Pouco a pouco sua relação com o irmão mais velho aparece em sonhos que a levam a uma segunda confissão: quando eles tinham aproximadamente oito e dez anos, tiveram juntos jogos eróticos e momentos de intimidade sexual que os levaram ao orgasmo. É, portanto, com ele que ela experimentou o encontro dos corpos, e foi necessário que ela estabelecesse regras para recusar firmemente as aproximações desejadas pelo seu irmão. Mesmo agora apesar de ser casado e pai de família lhe faz cumprimentos que ela hoje entende como sendo muito ambíguos.
O casal parental: Homem Mulher = irmão irmã. Essas situações de intimidade com o irmão ocorreram enquanto seus pais saíam para seus rituais religiosos, sua mãe os deixava à sós e lhes dizia que fossem bonzinhos. É então quando ela lembra que sua mãe amava dizer brincando que ela mesma e seu marido, o pai da paciente, eram irmão e irmã. Efetivamente, eles se conheceram quando ambos estavam envolvidos na religião, ele estando engajado como irmão em uma comunidade e ela como religiosa, portanto, irmã.
O fantasma do homem irmão. Essa fantasia de irmão e irmã parece encontrar do lado da mãe sua fonte no laço dela com seu irmão mais velho que era o único homem da sua família, pois ela tinha sido separada de pequena de sua família para ser “colocada na casa das irmãs”. O pai da paciente tinha sido escolhido pela mãe por ter a característica de um irmão com quem ela podia ter relações sexuais e filhos.
Se esta paciente se apresenta voluntariamente no registro histérico, encarnando ela mesma o falo, para ela o homem tem esses traços do irmão.
Onde na adolescência as conversações amorosas foram ligadas ao prazer sexual com o irmão brilhante e bom conversador, há em sua vida adulta uma separação com uma vida sexual com o marido fazendo-se filho dela, mas isso não era tanto para ser a mãe ao lado dele, senão para gozar com um homem equivalente ao irmão, filho; e por outro lado, havia o homem do desejo e da conversação com o qual nenhuma sexualidade é permitida. Enfim, não poder conceber um filho com seu marido pode-se entender como um protesto ao fantasma materno: “minha mãe fez filhos com um irmão, é repugnante”. O homem irmão do lado da filha e o irmão pai do lado da mãe, a devastação da relação com a mãe está aqui em primeiro plano.
O nó da questão, que se destaca como um traço nesta cura é a equivalência homem irmão, é a degradação do homem ao irmão, ela está fundamentalmente casada com o irmão embora a escolha de objeto amoroso do lado do marido se apresenta ao avesso do irmão, há o traço do garoto. Há o homem do desejo com quem nada sexual acontece e há o homem com quem há o sexual, porém nenhuma conversação, que está fixado numa posição de ter filhos na relação com sua esposa.
É por uma seqüência de “falsos passos” e pela análise dos sonhos que ela vai aos poucos percebendo os impasses dessa equivalência inconsciente do homem ao irmão.
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