Disponível em Lacan Cotidiano 54
COLETTE BAILLOU
Um motorista de taxi psicanalista
Ou a iniciação à sessão curta
Não ceder em seu desejo... Escutar Fouzia Liget até o fim de sua exposição mesmo correndo o risco de perder o meu trem. Eu saio correndo. Minha precipitação é visível. Eu aceno para um taxi ou, antes, é ele que me faz sinal.
Eu lhe peço: será que posso estar na Estação de Montparnasse às 18H45?
Ele me responde, amavelmente: Eu não posso lhe dizer, há questões às quais nós não podemos responder.
Eu digo: Então, vamos tentar?
Ele concorda. Eu me jogo para dentro de seu automóvel.
- O que havia no Palais des Congrès?
Eu me vi narrando sobre a École de la Cause freudienne, sobre a psicanálise, sobre Rafah Nached:
- Eu estou atrasada, porque eu escutava uma psicanalista francesa e marroquina.
- E eu também sou marroquino e também sou psicanalista!
- Ah é?
- Quando eu pego um cliente, ele me conta sobre os seus infortúnios e com o próximo cliente, ocorre o mesmo. Eu passo do Senhor àquele que é mal. Uma vez, contrariamente, houve um homem que chorava, pois são sempre as mulheres que choram. Eu transportei Martine Aubry por duas vezes.
- Então, você encontra pessoas singulares!
- Eu mesmo tenho a necessidade de um amigo para quem eu possa dizer tudo e não é grave se isso o incomoda. O importante é que ele me escute.
- E por que não falar a um psicanalista?
-Não, porque eu preciso dizer tudo e tudo demora muito tempo.
Eu lhe explico então sobre o fato de que é interessante cortar a sessão sobre uma palavra, uma frase, para que isso ressoe, então, concluindo: - não é necessário que a sessão seja longa.
- Sim, mas isto é para fazer andar o negócio!
- Não, é para que isto seja mais eficaz.
Silêncio.
- Você sabe, há psicanalistas no Marrocos.
- Sim, eu entendi.
Eu acrescento: e meu motorista de taxi em Paris é marroquino e psicanalista: eu estou com sorte. ( j’ai de la chance.)
Ele: há um conhecido psicanalista marroquino: Barraked...você sabe, Barraked como baraka! (o feminino de chance/sorte).
Eu digo: Ai está. Eu disse “chance/sorte” e você traduziu como “baraka”, e você me falou do Sr. Barraked;
Risos. Fim da corrida. Ele usou sua destreza de motorista de taxi parisiense para que eu chegasse dentro da hora na estação e eu o agradeci.
Eu salto no trem e eu escrevo a vocês.
Eu não posso deixar-lhes tão rápido.
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