"O ANALISTA CIDADÃO"*
(Resenha desenvolvida em preparação para o V Encontro Americano - ENAPOL)
Yára Valione EBP-SP - CLIPP
Neste texto Laurent aponta ao leitor a influência americana na cultura européia, principalmente no pós Segunda Guerra. A filmografia da época relata não só a mudança de estilo de vida como as novas identificações sexuais, a nova felicidade. Culminado nos finais da década de 60 a modernização americana da vida européia, levou os analistas a se defrontarem com um mundo permissivo, para usar as palavras de Laurent, e permanecerem na sua função sem se posicionarem quanto às novas formas de vida dos gays, lésbicas tanto dos direitos dos psicóticos, normais, e outros.
A princípio os analistas não tinham idéias sobre estes assuntos. Eles se mantinham na posição do intelectual crítico. Além de produzir o vazio, o analista crítico não tem ideal, não acredita em nada! Contra este posicionamento Serge Leclaire elaborou a concepção de uma análise como prática de desidentificação. Essa concepção colaborou para a marginalização da análise, do analista na sociedade: a de que ambos não serviam para nada!
É necessário, enfatiza Laurent, o analista sair deste lugar de desidentificador e ocupar o de analista cidadão. O analista deve perceber e entender a comunhão de interesses entre o discurso analítico e a democracia. A função do analista é a de participação, é de um analista sensível às formas de segregação; é a de diferenciar a sua função, entre o antes e o agora.
Embora criticado o analista desidentificador apresenta um lado positivo: o de proporcionar intervenção institucional, por exemplo, com o seu dizer silencioso, muito diferente do silêncio em si. O dizer silencioso implica tomar partido de maneira ativa, silenciar a dinâmica de grupo que rodeia toda a organização social. (p143)
Trata-se de transmitir o que da particularidade de um pode ser útil para todos, enfatiza Laurent. Não se ater à recordação do já passado; ao contrário, desfazer-se das saudosistas tradições para ser um analista útil, cidadão presente nas transformações da cultura. O analista cidadão deve opinar sobre as psicoterapias, participar nos debates sobre, por exemplo, se é preferível saber o nome de quem cede seus espermatozóides para um serviço de procriação assistida. (p147) Inclui ainda a participação ativa de analistas nas comissões de ética: é necessário estar presente às reuniões para atuar junto às decisões práticas, sempre que o ideal é modificado pela ciência.
Outro destaque é a participação do analista em avaliações tanto em avaliar, quanto em ser avaliado. Face às afirmações de que terapia cognitiva é mais eficaz que a análise, o analista cidadão deve propor-se a demonstrar o contrário, sem contudo apoiar-se em discussões teóricas.
Além de segregação, das crenças sociais, entre tantos outros campos de atuação Laurent pontua: ...em minha opinião, portanto, o analista que não se queixa, que toma partido nos debates, o analista útil e cidadão, é perfeitamente compatível com as novas formas de assistência em saúde mental, formas democráticas, anti – normativas e irredutíveis a uma causalidade ideal. (p 149)
Referência:
*Éric Laurent In A sociedade do sintoma – a psicanálise, hoje. (141 – 150) Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria Ltda, 2007.
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