21.4.12

"Simbólico no Século XXI" - série para o VIII Congresso da AMP


Faltam 2 dias para VIII Congresso da AMP - A ordem simbólica no século XXI. Já não é o que era. Quais consequências para o tratamento?... e a orientação lacaniana vem demonstrando suas particularidades.

MOMENTO CLÍNICO

Disponível em: Lacan Cotidiano 44
SEVERINE LEBLANC
Falsa histeria

Esta mulher de 50 anos me procurou depois da interrupção de uma longa análise que, segundo ela, “girava em círculos já há alguns anos.” Seu analista ocupou na transferência o lugar de mãe ideal, o que segundo ela, a mergulhou na admiração e na inibição; o que a levará a sair dessa análise. Procurar-me implicou então em retomar a questão onde ela a havia deixado, para tentar reconectar com seu desejo e sair da ladeira de renúncia, na qual ela se instalou há bastante tempo.
Muitos elementos no caso evocam uma histeria: a relação com seu desejo, sempre insatisfeita com os diferentes sucessos, numerosos, no plano profissional; seu tom reivindicatório quando se tratava da ausência do olhar de seu pai desde sua infância; e sua fascinação pelo corpo e o saber fazer com a sedução, da qual dava provas uma de suas melhores amigas. Tudo isso estava no sentido de uma histeria. Seu marido, um amante castrado que, no entanto, ela amava, não se interessou mais por ela desde a saída de seu filho da casa e ela começou a interessar-se, sem sucesso, por outros homens.
Mulher inteligente, ela parecia ter uma relação muito fluida com seu inconsciente: analisava corretamente seus sonhos, já havia feito uma análise e agia de modo pertinente, por suas associações, aos nossos cortes nas seções. A análise toma rapidamente o ritmo de uma dança bem compassada, na qual ela seguia facilmente os passos que nós marcávamos.
O início de sua análise leva a um aggiornamento em relação a seu desejo: ela deixará seu marido, coisa que desejava há muito tempo, mas instalar-se-á numa depressão que se prolongará por longos meses. Ela não concordará com seu marido sobre as condições da separação e começa logo a queixar-se de sua intransigência. Começa a imputar-lhe total responsabilidade por seu estado atual, fazendo recair sobre ele a culpa da separação.
Ela alojou, portanto, em sua falha com ele sua impotência em poder fazer sem ele, e é o que eu lhe digo, provocando com meus comentários um olhar perplexo, quase siderado. Ela me anunciará em seguida, sua intenção de parar as sessões.
Qual foi aqui a falta do analista?
Se estivéssemos tratando de um sujeito verdadeiramente histérico, ela ficaria provavelmente ofuscada face aos meus comentários, a interpretação viria tocar no sintoma através do qual, ela aloja na falha do Outro, sua própria impotência. Mas, nesse sujeito, constatar esta falha e sua reivindicação concomitante a alojavam na análise e o analista só tinha que tomar nota: com meus comentários, eu a desalojei da cura. De onde sua perplexidade e sua decisão sem apelo.
Uma falsa histeria, em suma, que nos lembra do respeito a ser usado com a precariedade dos semblantes que a psicose pode emprestar para não entrar em colapso.

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