26.1.13

Não toque na minha família


Não toque na minha família

por Hélène Bonnaud
Lacan Cotidiano 272

"Todo mundo só fala sobre isso", disse Jacques-Alain Miller, esta tarde.                             

Sim, há uma investida sobre a questão do casamento para todos, como se, finalmente, considerar o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo colocasse em efervescência os valores tradicionais da família. No entanto, o que é o casamento? Não é mais que um contrato que estipula um compromisso entre duas pessoas. Ter um filho, crianças, não é o resultado da união, mas, sabe-se há muito tempo, uma escolha que surge de um desejo particular. Não se casa mais para ter filhos, mas casa-se porque se ama... a criança vem  como suplemento, como o disse Freud sobre a cura, para a psicanálise.

A separação entre o casamento e o desejo de ter filhos levou a invenções formidáveis sobre a maneira de construir sua família, pois a criança é um objeto causa do desejo que supera a questão do casamento. Muitos homens e mulheres se casam mais tarde, na maioria das vezes para pagar menos impostos! O casamento perdeu muito do seu valor simbólico.

Na hora em que as boas e más razões lutam para fazer do casamento para todos uma causa de recessão da família, já podemos ver os efeitos provocados por esta agitação de um "não toca minha família" medíocre e fora de moda.

A família, portanto, permaneceria um dogma intocável? Uma coisa sagrada baseada no papai-mamãe de nossos contos infantis? Humm.

A psicanálise encontra os sujeitos que estão diretamente envolvidos com essas questões de compromisso' entre duas pessoas. O que é certo é que o discurso atual sobre a homossexualidade cria novos sintomas, principalmente com uma série de perguntas sobre sua identidade sexual, sua escolha de parceiro, seu desejo sexual, sua potência sexual ou sua falta de libido. Os jovens são, na verdade, muito menos defendidos diante dessas questões de identidade sexual, o que não é sem angústia.
Porém, para todos aqueles que escolheram sua orientação homossexual o casamento para todos tem como efeito remover as paredes remanescentes da vergonha e da exclusão. Isto significa que cada um agora terá o direito de fazer de seu parceiro o seu sintoma e de questionar sobre o que nem vem preencher nem satisfazer. Em suma, uma clínica que tem a chance de se fundir na lógica do não-todo.
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